Inúmero Poro (Ricardo Aleixo)

Poema de Ricardo Aleixo*
publicado originalmente no livro “Intervalo, respiro, pequenos deslocamentos” (2011)

Detalhe de uma faixa de antissinalização, obra do Coletivo Poro. Poema visual.
Faixa de antissinalização – Detalhe (Poro)

Porosidade.

Porocidade.

Reci-

p(o)ro-

cidades:

a porosidade

da cidade

por onde

o Poro –

comum

de dois –

prolifera

, uno em relação

ao que (a)

transforma.

Poro: do um

ao zero.

E daí

ao inúmero.

O sonho

, tomando forma

a partir dos poros

do Poro

, de uma cidade

(muitas) mais

polis do que urbs.

Habitável? Não só:

permeável.

Com mais poros

percebe o dia a dia.

Porosidade.

Porocidade.

Recip(o)rocidades:

o invisível

tornado visível

por um gesto

(muitos) menos

de a-

propriação

que de des-

a-

propriação

da cidade.

A inventação, nela

– a cidade –

, do que pode vir a ser

mais que apenas

o que querem

, os desprovidos

de imaginação

, fazer da cidade.

Porque não querem

, os de sempre

(os de nunca)

, que a cidade

seja aquilo

que, em todos

nós, inclusive

em alguma parte

ainda capaz de pulsar

no corpo

quase morto deles

, só pode

se realizar

e f e t i v a m e n t e

no espaçotempo de

multipli-

cidades

entrecruzadas

chamado cidade.

Eles não querem

, mas o Poro

, com sua álacre

disposição para extrair

do comum

o incomum

e

, antes que o

sinal verde

novamente se abra

, devolvê-lo

(o comum)

ao lugar que é

só dele (o comum)

, entre as pessoas

e as coisas

de todo dia a dia

, quer.

Quem mais quererá?

 

Ricardo Aleixo – 09: maio

 

*RICARDO ALEIXO é poeta, músico, artista visual e ensaísta. É professor de Design Sonoro na Universidade Fumec. Na web: www.jaguadarte.blogspot.com